quarta-feira, 30 de julho de 2014

Grão de Areia

Grão de areia. Pontinho solto que grita e insiste que o mundo não ouve.

- O que houve com o mundo? Querem me calar? – berra a criatura ansiosa – Eu vou soltar meus cachorros!! 

Latem, latem, latem… E lá, no fundo, tem algum significado a vida? – pensa.

Ela para, respira e se olha no espelho. Não quer falar. Não quer ouvir seus cachorros. Só quer sentir que ainda respira. Está viva! Vê uma outra que não é ela. Chora. Expurga todo o vazio em lágrimas e, num sopro, arfa como um cão sem dono e se enche de vida. Coloca no papel toda a angústia e sabe quem é. Um grão de areia. Pontinho solto que grita e insiste que o mundo não a ouve. Mas agora ela encontra a voz na pena. Ela sabe pra quem está falando e precisa disso para se exibir. Os cachorros lambem seu ego (fazem festinha!). Grão de areia que a água molhou.

30/07/2014 – 21:44

2 comentários:

  1. "Grão de areia que a água molhou". Amei.

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  2. Gostei do texto! E deste fecho também! Um desafio para nosotros que até agora não soltamos nossos cachorros aqui! Parabéns!

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