quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Formas nem tão novas de Ser, Ver, Saber...

Então, a inspiração surgiu em outro formato, mas posto para sair da inatividade literária...

Incrível a velocidade com que as coisas se transformam, principalmente os eletrônicos e mídias. Descobri recentemente que não tenho como ouvir alguns CDs antigos, músicas que não cheguei a baixar para o meu acervo virtual. Tentei colocar o CD no notebook e não foi lido, o aparelho de som tampouco o girou, cheguei a abrir a caixa do eletrônico e descobri muita poeira dentro, nossa, acabei desistindo da missão de ouvir o pequeno disco prateado e parti para a Internet na expectativa de saciar meu desejo auditivo. Rapidamente encontrei o que queria num site de música e em menos de um minuto estava escutando tudo o que queria e mais um pouco.

Entendo e aceito a evolução, mas até certo momento, as coisas pareciam mais controláveis, mesmo o que era novidade, como o walkman, por exemplo, para manuseá-lo e ouvi-lo não precisava de nenhum entendimento abstrato, de nuvem, compartilhamento, formatos de mídias ou qualquer coisa do gênero. Era fácil pegar uma fita VHS, que poderia passar de mão em mão, e assistir a um filme, ou deixar um LP tocar até o final e ficar ouvindo o estalar da vitrola avisando que terminaram as faixas.

Isso não é assunto novo, é mais do que sabido que estamos sempre evoluindo, buscando novas formas de interagir com o meio e uns com os outros, e sempre haverá mudanças, mas após o surgimento da Internet as possibilidades são tão grandiosas, que assustam aos que foram acostumados com o poder de manipular o que era concreto, ou o que se pensava ser concreto, como segurar uma fita K7 e rodá-la com uma caneta Bic para ouvir novamente o mesmo lado, seja isso simples ou não. É claro que o processo hoje é bem mais fácil para quase tudo, mas apesar da Internet ser um veículo quase que democrático, uma vez que a maioria dos lares já possui acesso, não quer dizer que seja para todos. Vejo muitos idosos na tentativa de associar este mundo novo avançando limitadamente e muitos que não querem nem tentar, e não é que antes não tivessem experts em tecnologia, havia muitos, mas eram mundos separados, você podia fazer parte da turma que construía os sistemas, a minoria, ou da turma que só usufruía das tecnologias, mas hoje, parece que todos tem de saber montar sites e blogs, baixar músicas, montar playlists, frequentar redes sociais, encontrar e fazer negócios pela internet, transações bancárias e por aí vai.

Tento fazer um pouco de tudo isso, mas parafraseando o ditado conhecido e cada vez mais real em nossas vidas, só tenho a certeza de que nada sei, e com o passar do tempo, a impressão é que saberei cada vez menos. Podemos até garantir a evolução em alguns assuntos, mas não conheço ninguém que possa dominar profundamente diversos âmbitos, então em algum momento seremos todos surpreendidos. Se você gosta, por exemplo, de fotografia, cinema, vídeo, áudio e nunca chegou a se aprofundar no assunto ou se formou, entrou no mercado e não fez mais nenhuma atualização, possivelmente você segmentou em um tipo de software e agora está quase acorrentado a ele, então tente fazer um curso inicial de uma nova ferramenta. Sendo você já praticante da área ou não, entrará como que no mundo de Alice a descobrir um universo de novas possibilidades.

Ao contrário dos que já estão no mercado e que cresceram acompanhando a evolução das mídias, as crianças hoje já convivem com esta realidade desde pequenas, e a maior diferença não é nem o aspecto “material”, o Ipad/tablet que carregam nas mãos, mas a iniciação a este mundo virtual em que quem define a programação é o próprio usuário. Imagina se na minha época de criança, década de 80 e 90, alguns, poucos, tiveram ideias revolucionárias e criaram um computador moderno e portátil sem nunca ter visto nada igual, então o que farão estes descendentes de hoje que crescem aceitando a ideia da realização de seus desejos e necessidades de forma abstrata, virtual, onde o mundo é o que elas querem. É uma nova relação com a satisfação dos nossos próprios desejos, onde tudo é possível. Adolescentes ficam ricas com blogs, exposição em massa, a privacidade quase inexiste, relacionamentos virtuais.

Muitas mudanças ainda advirão do nosso atual e mutável comportamento, junto a isso, que acompanhe o nosso amadurecimento, a valorização da educação, que deve ser retomada com uma visão adaptada à forma de percepção atual, não cabe mais o mesmo sistema, e que os nossos valores sejam revistos. Não somos países isolados, nunca fomos, mas está cada vez mais difícil ignorar que qualquer decisão do vizinho não interfira em nossa vida, somos como irmãos adultos vivendo na mesma casa, por enquanto em cômodos separados, a briga de qualquer um afeta a sua paz. A tecnologia nos uniu e a tendência é que nos aproxime cada vez mais, e o que fazer? Isso o Google não responderá.

Precisaremos de líderes sábios para guiar a humanidade no caminho da consciência, do autoconhecimento, do amadurecimento e da possível sobrevivência neste planeta, em constante transformação, onde somos apenas passageiros.

Enquanto isso, eu volto ao meu som, que divino! Oferecido a mim “gratuitamente”, com apenas um cadastro, toda a discografia, e ainda a ouço através de uma caixa de som conectada virtualmente ao meu computador que é fantástica, ideia genial. Ainda saberei através do site, quantos escutaram a mesma música e quantos a ouvem simultaneamente comigo, quantos seguem ou perseguem o artista, se ele segue alguém, o que ele, os outros e eu, pensamos, comemos, assistimos, achamos, sonhamos, e o que não sabemos uns dos outros, será possível não sabermos?

2 comentários:

  1. Muito bom, Deni! Num texto gostoso, você nos chama para esta reflexão sobre os avanços em tecnologia. O que será de nós?

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    1. Verdade Maria José, o que será? Enquanto isso vamos aproveitando o que ainda cabe no nosso entendimento, e que nossas mentes sempre estejam prontas para aceitar novas idéias...

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